terça-feira, 30 de novembro de 2010

Beleza

O que vem a ser beleza
Em sua profunda grandeza?
Será ela o visual
Ou algo espiritual?

A imensa realeza
Da aurora boreal
Que precede com leveza
O nascimento da alteza
simplesmente angelical

A beleza não põe mesa
Mas atiça o carnal
Chega ela de bandeja
Até se tornar banal


Maria Lúcia

A magia

Eternidade passageira
Um química complexa
Ou uma simples fisica
Como queira

Indescritiveis sensações
Que vão além do inexplicável
Intensas emoções
Um sentimento quase palpável

Sintonia do corpo
Felicidade que acalma
Cujo único escopo
É a satisfação da alma

Um sonho real
Num sono profundo
Momentos perfeitos
Naquele nosso mundo

Um mundo ideal
Uma viagem astral
A passagem secreta
Do misterioso portal

Olhar que transcede
Até onde não se mede
Como uma planta que cresce
Sentimento que não se pede

Boca sedenta
Avalanche de desejo
Frio que esquenta
Com o sabor do beijo

Um mar perfeito
Que me fez morada
Invadiu meu peito
Formando enseada

Razãpopara acordar
Aconchego para dormir
Colo para chorar
Motivo para sorrir

Restou o sofrer
Do não mais ter
Semente brotar
E logo morrer

A magia entre eu e você.


Maria Lúcia

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Orgia literária

O poeta já dizia
Amor é proza
Sexo é poesia

Será ele então
Um amante da orgia?

Pega uma caneta
E com ela fantasia

Até onde ele iria
Abstraindo a utopia?


Maria Lúcia
Paixão da lua

A vida imita a arte
A arte imita a vida
Ela é em essência
Como a lua despida
Em sua enorme carência

Sozinha na escuridão
Eterna solidão
Se apaixona por um astro

Mas que futuro terão?

Naquele imenso vão
O que vale é a intensão.


Maria Lúcia

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Episódio do professor  que era preconceituoso e não sabia.
Estava eu no primeiro dia de aula numa Universidade de São Paulo, 60 pessoas na sala quando entra o professor.
Baixinho, enfezado, daqueles que fazem os alunos temerem levantar o braço pra perguntar ou contestar qualquer coisa que ele diga.
Ele pega duas carteiras e coloca sobre o elevado na frente da sala, em cada uma delas um recorte de jornal. Senta-se e diz: Duas pessoas AGORA para ler os recortes.
Sem pensar duas vezes, levantei e sentei em uma das carteiras. Depois de alguma insistência dele para um segundo voluntário, uma outra pessoa se manifestou.
Pediu então que eu começasse a leitura.
Em alto e bom tom, comecei a ler a matéria, que confesso hoje não me lembrar do que se tratava, pois passei a prestar mais atenção na reação da turma enquanto lia.  Apesar disso fiz a leitura muito bem feita, modéstia à parte, com entonação e pontuação corretas.
Ao terminar, o professor pediu que eu ficasse de pé e disse: Como nós podemos perceber,  você é nordestina, seu sotaque não deixa dúvidas e quero lhe parabenizar pela atitude e pedir que não mude seu jeito de falar por estar morando em São Paulo.
Então eu falei que não tinha nenhuma pretensão e sentei.
Fiquei pensando o porquê de ele não ter parabenizado a atitude do outro aluno de ter ido lá na frente ler o texto. Percebi que os parabéns foram por eu ter tido a coragem de abrir minha boca nordestina num elevado em frente a uma turma de 60 paulistas.
Não sei bem porque, mas gostei desse professor logo de cara.  Achei que ele ainda fosse me render  muitos momentos interessantes em sala de aula. E estava certa.
Fiz amizade com um cara negro de uns 40 anos, uma negra da minha idade e uma loira, todos casados.
Esse professor gostava muito de nos usar como exemplo nas suas aulas, já que ele falava muito sobre preconceito, em quase todas as aulas ele dizia: preconceito é opinião sem conceito, preconceito é uma merda, num curso de comunicação preconceito é inaceitável, só um tremendo animal imbecil ainda tem preconceito com qualquer tipo de raça, cor, religião, regionalidade ou opção sexual diferente da sua. Dizia que todos deveríamos  ter uma ideologia, porque sem ideais não seriamos nada, jamais seriamos publicitários, e sim publiciotários, estava de pé, falando e falando empolgadamente enquanto todos os alunos ouviam calados.
Num momento ele começou a perguntar: Qual é a sua ideologia?  Enquanto apontava o dedo na cara de um aluno espantado e mudo, depois pra outro e pra outro. Foi então que levantei minha mão e disse: com licença professor. Qual é a SUA ideologia? Ouviu-se um ooh, nossa, iih na sala. A expectativa era que eu recebesse um fora estrondoso ou que ele me fizesse passar por alguma situação altamente constrangedora.  Ele então sentou, respirou e meio surpreso disse: veja bem...  pensou mais um pouco e disse que sua ideologia era que as pessoas fossem diferentes e não desiguais. Achei bacana.
Então ele começou com os exemplos. Usou meu amigo negro como sempre e depois, falando sobre os nordestinos, foi a minha vez. Começou dizendo que todo nordestino é humilde (não no sentido positivo de humildade) que não consegue nada no nordeste então vem tentar ganhar a vida em São Paulo.
Ele disse: Nossa colega aqui, por exemplo, não tem cara de nordestina, não tem porte de nordestina, olhando pra ela podemos até pensar que ela é do sul, mas é só ela abrir a boca que vemos de imediato de onde ela é.
Então levantei meu braço educadamente e disse: Professor, com todo respeito, eu posso fazer uma observação?
Já se percebeu a expectativa de todos sobre o que ia rolar.
Eu falei: Professor, você abomina tanto o preconceito, mas às vezes as pessoas são tão preconceituosas que sequer se dão conta. Observe o que o senhor falou agora.
Como é a cara de um nordestino? Ele nada falou.
A cara de um nordestino é exatamente essa que o senhor está vendo.  Eu tenho cara de nordestina sim, e com muito orgulho, e o motivo de eu ter vindo morar em SP não foi esse que o senhor citou. E admiro muito quem vem da minha terra ou de qualquer outra tentar uma vida melhor aqui.
Só estou fazendo essa observação pra mostrar que até o senhor que é tão 'anti-preconceito' também é preconceituoso. Está aí um grande exemplo de opinião sem conceito dado involuntariamente pelo próprio professor.
Silêncio geral. E concordância do professor.


Maria Lúcia

Para quê?

Para quê amar estrelas
Se elas nunca serão tuas?
Para quê criar ovelhas
Se depois ficarão nuas?
Para quê juntar dinheiro
Se ele é só papel?
Para quê o mundo inteiro
Se nem vejo todo o céu?


Maria Lúcia